Conheço todo tipo de gente que crê em alguma coisa. Sim! Todo tipo de gente e de fé. Tenho amigos evangélicos legais e também evangélicos alucinados adoecidos. Possuo amigos católicos praticantes, católicos não praticantes, espíritas, Nova Era, bruxos, umbandistas, deístas, budistas e até gente que não crê em nada além de si mesmo, nem em Deus! Também conheço os que apenas se convenceram acerca de alguma estrutura de fé e não enxergam um palmo a frente de seus olhos…
O interessante de se encontrar com pessoas e cabeças tão divergentes é que a gente vai aprendendo a discernir e respeitar o ser humano além da sua roupagem cultural e religiosa. É possível aprender (com certa limitação, é claro!) a ter um olhar mais apurado, voltado para o coração e não somente para o exterior, para a aparência, para as camadas mais superficiais do ser.
É um exercício diário tirar as escamas dos olhos e começar a perceber as sinceridades e também as emboscadas de quem tenta fazer contato (e contratos) com Deus por puro hábito mecânico, sem verdade, ou por medo mesmo.
O que percebo, com o aprendizado deste convívio, é que a religião, seja ela qual for, em algum ponto pode adoecer e aprisionar as pessoas em angústias e neuroses que vão se enraizando sem se perceber e sem se deixar tratar. A religião verdadeira não é encontrada em um simples ou complexo sistema de crenças. Não pode ser baseada na barganha ou no medo. Ela é experimentada no caminho diário, ritmo e curso natural da própria vida. Não só com palavras e aparências, mas com a prática do que se crê e da capacidade de se viver sem angústias em Deus e para Deus.
O problema é que muitos fazem do nome JESUS e da fé no nome de Jesus uma fé em si mesma, enclausurada e minimizada nas letras e na pronúncia. Ou seja, acredita-se no poder da junção ordenada das letras e no poder da entonação forte dos fonemas. Nada além disso.
Sem perceber, as pessoas passam a crer mais na formação correta da “palavra mágica” JESUS que no ser além das letras. A palavrinha JESUS não possui poder nela mesma nem pode salvar qualquer pessoa. Quem salva é Quem está acima da letra e da capacidade de se pronunciar em qualquer língua as sílabas do Nome Eterno.
O que estou dizendo é que a fé nas letras J-E-S-U-S nem sempre é fé na PESSOA Jesus e que pode-se crer na pessoa Jesus e viver um encontro real com Deus sem, necessariamente, saber, conhecer ou pronunciar a palavra Jesus.
O apóstolo João, em seu evangelho, a respeito do ser Jesus, diz que o “Verbo se fez carne e habitou entre nós”, em outras palavras, em Jesus, Deus se fez “encontrável”, se materializou, construiu uma casa entre os homens. Não se trata mais de um sistema de crenças, de dizer, cantar ou gritar o nome correto ou da forma certa, mas de poder encontrá-lo na vida hoje, agora e em qualquer tempo até sem palavras e ritos.
Outras vezes, do mesmo modo, as pessoas transferem a fé para o objeto de culto. É a fé no crucifixo, na vela, na oferenda, no sacrifício, no púlpito, no altar, no monte, no sagrado, no culto, na música e até em outras pessoas. Esta fé também não resolve e reduz a vida a uma relação empobrecida de “encontro” com Deus somente nestes ambientes e objetos, quando, na verdade, Deus está para além do que se vê e do que se toca. Esta é uma característica inegável de Deus! Nenhuma religião ou lugar do mundo pode prendê-lo ou domesticá-lo!
A fé verdadeira produz vida com abundante confiança, mesmo nos mais profundos momentos de tristeza e dor. Sem muletas, sem amuletos, sem lugares especiais. A fé é um encontro diário, livre e renovador com Deus até para quem não sabe como crer.
Não se trata de fazer de conta que a dor não exista. Também não é uma desculpa alienada para fingir que “está tudo bem”. A fé vivida em sua forma mais genuína e livre capacita a gente para encarar de frente a dor, a perda e até a morte. Sem medo, sem fingimento, sem angústias. Pode-se até vacilar, perder as forças e apertar o nó na garganta, mas a gente levanta, segue em frente porque sabe de verdade que não existe fim para quem crê assim. O encontro é real e vivo!
Também, a Palavra de Deus vai entrando e se enraizando por todos os modos no nosso entendimento e ganhando cada vez mais chão e razão. Não somente através de um “livro sagrado”, mas através das Boas Novas diárias, reveladas no papo com os amigos, nas festas em família, com gente querida, no andar com quem se ama, no se perceber perdoado e no oferecer perdão, pão e a mão.
Percebemos e aprendemos que Deus fala e vai falando sempre como Ele quer, às vezes usa quem nós mesmos julgamos não serem “dignos” disso. Outras vezes é no silêncio, na incerteza e na simplicidade que Deus se revela como amigo sempre presente.
A fé em Deus vai se moldando delicadamente como que pelas mãos de um habilidoso e caprichoso escultor. Até um certo ponto a massa é informe, não se sabe bem o que resultará dali. Mas o escultor tem um objetivo, ele vai amparando e apertando o barro para dar forma e o que era apenas um monte de barro vai ganhando qualidades, contornos e depois cores e detalhes mais particulares. Este processo de modelagem diária vai trans-formando a fé em algo real, palpável e eterno.
Publicado originalmente por Pablo Massolar em http://ovelhamagra.blogspot.com.br